Qual a diferença entre produtora e gravadora?
- SIMtetizando

- 30 de set.
- 8 min de leitura
No cenário do trap e do rap nacional, entender a diferença entre gravadora e produtora é essencial para artistas que desejam trilhar um caminho profissional e sustentável na música. Embora os termos muitas vezes sejam usados como sinônimos, eles representam funções distintas dentro da indústria fonográfica, cada uma com seus próprios benefícios e papéis estratégicos no desenvolvimento de uma carreira musical.

As gravadoras são empresas responsáveis, principalmente, pela distribuição, comercialização e promoção da música. Elas investem recursos financeiros na gravação, marketing e divulgação de álbuns e singles, além de cuidarem da parte burocrática, como direitos autorais e contratos de licenciamento.
No Brasil, exemplos de gravadoras que atuam no rap e trap incluem a Som Livre, que já trabalhou com artistas como Filipe Ret, e a Universal Music, que tem em seu catálogo nomes como Matuê. O principal benefício de uma gravadora é o alcance: com uma estrutura robusta e conexões com rádios, plataformas de streaming e mídia tradicional, ela pode alavancar a visibilidade de um artista em escala nacional ou até internacional. Além disso, gravadoras costumam oferecer adiantamentos financeiros, o que pode ser crucial para artistas em início de carreira.
Por outro lado, as produtoras têm um papel mais voltado à criação artística e à gestão de carreira. Elas cuidam da produção musical, desde a composição e arranjos até a gravação e mixagem, e muitas vezes também atuam como empresárias dos artistas, ajudando na construção de imagem, agenda de shows e estratégias de lançamento. No trap nacional, produtoras como a 30PRAUM, fundada por Matuê, e a Medellin Records, associada a artistas como MC Cabelinho, são exemplos de estruturas que nasceram dentro da cena e entendem profundamente sua linguagem e estética.
Por serem geralmente menores e mais próximas dos artistas, o grande benefício de uma produtora é a liberdade criativa, permitindo maior controle sobre o som, a identidade visual e os rumos da carreira. Além disso, produtoras independentes costumam ser mais flexíveis em termos contratuais, o que pode ser vantajoso para artistas que desejam manter a posse de seus masters e direitos autorais.
Em muitos casos, artistas optam por trabalhar com ambos os tipos de empresa: uma produtora para desenvolver seu som e identidade, e uma gravadora para distribuir e promover o trabalho em larga escala. Essa combinação tem sido comum no rap nacional contemporâneo, onde a autenticidade artística é tão valorizada quanto o alcance comercial. Um exemplo disso é o próprio Matuê, que com a 30PRAUM cuida de toda a parte criativa e estratégica, mas também se beneficia da distribuição feita por uma grande gravadora.
Portanto, a escolha entre gravadora e produtora depende dos objetivos do artista, do estágio da carreira e do tipo de controle que ele deseja ter sobre sua música. Em um cenário como o do trap e rap nacional, onde a independência e a originalidade são marcas registradas, entender essas diferenças é um passo fundamental para construir uma trajetória sólida e autêntica.
Produtoras e gravadoras: são a solução?
As desavenças no mundo do Trap ocorrem constantemente, seja entre os próprios artistas, como as brigas de Matuê com Raffa Moreira ou Orochi; entre o mundo do Trap e dos funkeiros, como aconteceu em 2025 com a música “Espinafre”, do Brandão085; e, principalmente, em relação aos contratos entre gravadoras e artistas.
No mundo do trap, o principal caso de brigas entre artistas e produtoras foi com a Hash Produções, que causou muitos problemas para os seguintes artistas:
Teto

Clériton Sávio Santos Silva, mais conhecido no mundo artístico como Teto, nasceu em Jacobina, uma cidade no interior da Bahia. Desde pequeno, ele teve contato com a música; porém, só aos 17 anos, começou a ter notoriedade no mundo do Trap, quando lançou suas músicas "Fico Famoso" e "Say Yes", que não obtiveram tanto sucesso, sendo assim retiradas pouco tempo depois de todas as plataformas digitais. Entretanto, Rafael Novaes, o dono da produtora Hash Produções, acabou conhecendo o trabalho de Clériton e, consequentemente, propôs uma parceria de investimentos entre a “Hash” e o artista Teto.
Apesar de o artista ter gravado algumas músicas com o selo da produtora, Teto acabou se sentindo frustrado pela falta de valorização de seu trabalho e, principalmente, pela falta de seriedade da Hash em relação às suas músicas, causando, assim, sua saída.
Assim, Clériton se viu novamente no marco zero de sua vida musical. Porém, em meados de 2020, durante a pandemia, suas músicas começaram a bombar na internet, como o feat "Saturno", que contava com a participação de Doode e Burn-O e atualmente soma mais de 23 milhões de visualizações no YouTube.
Teto, então, começou a enxergar um pingo de esperança no fim do túnel, pois viu sua base de fãs crescer. Confinado em casa, com apenas um celular e sua vontade de se tornar um músico reconhecido no Trap, Teto começou a abrir lives em seu Instagram, mostrando as prévias de suas músicas, formato do qual seus seguidores começaram a gostar. Diante disso, seu público foi aumentando até suas músicas não oficiais chegarem aos ouvidos de outro dono de produtora e gravadora: Matuê, um dos maiores trappers do Brasil e criador da “30praum”.
Os laços entre Matuê e Teto foram se estreitando até que o dono da 30praum convidou Clériton para realizar o feat “M4”, que seria apenas uma colaboração sem questões burocráticas envolvidas. Entretanto, a guerra entre Teto e a Hash Produções começou após o encontro dos artistas, pois Matuê, tendo gostado e visto muito potencial em Clériton, o convidou para entrar em sua gravadora, a 30praum.
O jovem artista não pensou duas vezes e aceitou, mesmo com o pré-contrato com a Hash, ocasionando, assim, diversos problemas, pois Teto "pulou" de uma gravadora para a outra, apesar de todo o investimento realizado pela Hash Produções em sua carreira.
Além disso, havia uma prévia da música “Paypal”, que era originalmente do artista Brandão085, da Hash, com a colaboração de Teto. Contudo, a guia ficou muito mais famosa na voz do jovem artista, o que mais tarde, com seu lançamento, irritou ainda mais os artistas e a Hash Produções.
Dessa maneira, alguns sócios da produtora e o artista Brandão ficaram muito irritados e invadiram a casa onde Teto estava para uma conversa. Porém, a conduta deles foi completamente errada e contraditória, pois uma "conversa" onde 5 pessoas chegam gritando e "zoneando" o local é algo completamente equivocado. Apesar de essa situação ter se resolvido de maneira pacífica, a cena do trap no Nordeste acabou se dividindo entre a 30praum e a Hash Produções.
Mas, como fruto de um trabalho justo e honesto, Teto conseguiu realizar seu sonho e se tornar muito mais do que imaginou. Hoje, ele é um dos maiores trappers do Brasil, com 7 milhões de ouvintes mensais no Spotify, e conseguiu lançar seu primeiro álbum em 2025, enquanto sua antiga produtora, a Hash, acabou perdendo todos os seus artistas e hoje não possui mais o respeito e a admiração que havia conquistado, aproximando-se, assim, da falência.
Raffa Moreira

Rafael Fernando Moreira, artisticamente conhecido como Raffa Moreira ou BC Raff, é um dos nomes mais polêmicos e autênticos do trap brasileiro. Natural de Guarulhos (SP), ele começou sua trajetória no hip-hop com influências do rap dos anos 2000, do punk e da cultura da internet. Com rimas afiadas e postura provocativa, Raffa rapidamente chamou a atenção tanto pela estética quanto por sua independência artística.
No entanto, seu nome também ficou marcado por diversos conflitos com gravadoras e outros artistas do cenário. Um dos episódios mais notórios foi sua briga pública com a gravadora Sound Food Gang, da qual faziam parte outros nomes da cena, como Derek, MC Igu e Dfideliz. Apesar de, inicialmente, fazer parte do grupo, Raffa Moreira se afastou alegando falta de reconhecimento e problemas com contratos e gestão artística.
Raffa sempre se posicionou contra o que considera exploração no meio fonográfico. Em entrevistas e nas redes sociais, já expôs diversas vezes cláusulas abusivas e o controle criativo que algumas produtoras tentam impor sobre seus artistas. Ele defende a liberdade artística e financeira dos trappers, o que acabou por colocá-lo em rota de colisão com várias estruturas tradicionais do mercado musical brasileiro.
Baco Exu do Blues

Diogo Álvaro Ferreira Moncorvo, conhecido artisticamente como Baco Exu do Blues, é um dos artistas mais respeitados da nova cena da música brasileira. Com sua mistura de rap, MPB, ritmos afro-brasileiros e letras intensas, Baco conquistou reconhecimento nacional após o lançamento de “Te Amo Disgraça” e do aclamado álbum “Esú” (2017).
Contudo, nem tudo foi poesia nos bastidores de sua carreira. Após o sucesso de seus primeiros lançamentos, Baco assinou contrato com a LAB Fantasma, gravadora dos irmãos Emicida e Evandro Fióti. A parceria, a princípio, parecia ideal: a LAB tinha prestígio, estrutura e uma proposta artística alinhada ao perfil de Baco. Mas, com o tempo, surgiram divergências criativas e de gestão de carreira.
Em entrevistas e postagens nas redes sociais, o artista deixou claro seu incômodo com a forma como sua carreira estava sendo conduzida. Reclamava de falta de autonomia, pouca liberdade artística e desentendimentos com a equipe da gravadora. Esses problemas culminaram em sua saída da LAB Fantasma em 2019, apenas dois anos após o início da parceria.
A ruptura foi marcada por tensões públicas e entrevistas em que Baco expressou frustração com o funcionamento do mercado fonográfico. Segundo ele, as gravadoras ainda tentam moldar o artista ao que elas acham que vende, em vez de respeitar a identidade criativa de quem faz a música.
Após a separação, Baco passou a lançar seus trabalhos de forma independente, incluindo o disco “Quantas Vezes Você Já Foi Amado?” (2022), que reafirma sua identidade artística singular.
Produtoras: como podem ajudar?
Com o passar dos anos, a indústria musical no Brasil tem visto novos episódios de produtoras e gravadoras entrando em conflito com artistas. Essas desavenças ocorrem entre os cantores mais populares ou até mesmo entre aqueles que se encontram no chamado underground.
Porém, nem só de embates vivem as produtoras. Por isso, serão abordados os artistas Franco, The Sir, KayG e WIU — nomes angariados por gravadoras e que hoje alcançam multidões.
Franco, The Sir

Franco, The Sir é um artista recente na cena musical de rap no Brasil. Natural de Belém do Pará, o jovem de 18 anos chamou a atenção de muitos ouvintes no final de 2024. O rapper ganhou notoriedade nas redes sociais ao divulgar sua música “Fujifilm”, que "brilhou os olhos" de outros cantores pela melodia criada nas entrelinhas das rimas.
A sonoridade, a forma de cantar e o estilo do jovem ajudaram a alavancar o vídeo. Porém, alguns internautas perceberam uma divulgação exacerbada de páginas nas redes sociais de uma figura desconhecida que tinha acabado de estrear seu primeiro álbum. Com algumas pesquisas, todos puderam notar que Franco tinha um “padrinho” muito influente que poderia estar por trás de todo aquele sucesso repentino: Mítico, um dos apresentadores do Podpah, está investindo na carreira do cantor e patrocinando videoclipes, produções em estúdios e a divulgação do rapper.
O jovem logo foi acusado de ser um industry plant por parte do público e de alguns artistas, mas Mítico se pronunciou defendendo Franco. “Eu sou o empresário do Franco; este mês ele vem para São Paulo e eu vou fazer esse cara subir. O ‘bagulho’ é real: colocar o Norte no topo. Além de tudo isso que a galera está falando sobre dinheiro e artista ‘plantado’... não é nada disso, isso (reconhecimento) a gente batalhou muito para ter. Norte no topo!”.
Para alguns artistas, ter um empresário ou uma gravadora pode ser arriscado por causa de contratos duvidosos e metas absurdas, mas, para Franco, parece ser um bom negócio até o momento. Cada vez mais é possível ver o rapper evoluindo musicalmente e também em seus projetos audiovisuais.
KayG

KayG é um rapper que fez seu primeiro lançamento no Spotify em 2020, mas veio a atingir as massas no ano passado. Apesar de ser reconhecido pelo talento, o paulistano foi notado por fazer parte do selo EHXIS, organizado pelo rapper Kyan, onde lançou seus principais projetos “PLAQUE” e o álbum coletivo “Golden Boyz”.
WIU

Vinicius William Sales de Lima, mais conhecido como WIU é um dos principais nomes da nova geração do trap nacional. Nascido no Rio de Janeiro e criado em Petrópolis, o artista começou a chamar a atenção por sua versatilidade, flow único e produções de alto nível, o que o destacou muito jovem no cenário musical.
Mas foi com o apoio da gravadora 30Praum, fundada por Matuê, que WIU conseguiu consolidar sua carreira de forma mais sólida e profissional. A gravadora tem como objetivo impulsionar talentos promissores do rap e trap, oferecendo estrutura de estúdio, marketing, direção artística e uma rede de conexões valiosas no cenário musical.
Com a 30Praum, WIU lançou faixas que rapidamente viralizaram, como “Coração de Gelo”, que explodiu nas plataformas digitais e se tornou um dos maiores hits do trap brasileiro. Além disso, ele passou a contar com apoio para videoclipes de alto padrão, distribuição profissional e oportunidades de participação em projetos com outros grandes nomes da cena.




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