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Do esgoto ao mainstream

  • Foto do escritor: SIMtetizando
    SIMtetizando
  • 27 de out.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 29 de out.

Reprodução: Estado de Minas
Reprodução: Estado de Minas

O funk brasileiro, especialmente em sua vertente natural das batalhas de rima, tem sido mais do que um movimento musical, é uma indicação social. A ascensão de MCs que saem das rodas de improviso para o topo das paradas demonstra a potência cultural de uma cena que, historicamente marginalizada, construiu sua própria ponte para o mainstream.


A frase do MC Jottapê, “do esgoto ao mainstream”, usada para definir sua trajetória, não é força de expressão. Ela traduz a realidade de artistas que emergem das periferias, atravessam o preconceito e o ambiente precário, e conquistam projeção nacional.


De Racionais à batalha

Reprodução: Veja São Paulo
Reprodução: Veja São Paulo

A trajetória, no entanto, é coletiva. Batalhas como a da Aldeia (Barueri-SP), do Tanque (RJ), da Matrix (ES) e da Escadaria (MG) se tornaram verdadeiros laboratórios culturais. Dali saíram nomes como Kant, Leozin, Orochi, Choice, Salvador da Rima, Krawk, entre outros. São vozes que migraram do improviso nas praças para palcos de festivais, campanhas publicitárias e colaborações com artistas consagrados.


Orochi, por exemplo, transformou sua habilidade em rima crua em uma carreira consolidada no rap e no trap. Seu selo Mainstreet revelou diversos talentos e reforçou a conexão entre música, empreendedorismo e representatividade.


Kant também é um exemplo emblemático de artista que atravessou as batalhas de rima para ocupar múltiplos espaços na cultura. Conhecido pelas diss tracks afiadas e pela agressividade lírica, Kant construiu uma persona marcada pela intensidade nas palavras e pela entrega, se tornando o maior vencedor da mais famosa roda de rima A Batalha da Adeia. Sua trajetória ganhou ainda mais força com a aparição na série Sintonia, onde interpretou a si mesmo em um universo que mistura ficção e realidade, ampliando o alcance da cena de batalha para o grande público. A presença de Kant em uma produção de alcance nacional reforça o impacto narrativo das batalhas e sua importância na formação de novos protagonistas da música urbana brasileira.


A indústria se curva às ruas

Reprodução: Rap Dab
Reprodução: Rap Dab

O fenômeno da “plataformização” dessas carreiras isto é, a ascensão via YouTube, TikTok, Instagram e Spotify, deu autonomia criativa e visibilidade direta aos artistas. As batalhas deixaram de ser apenas espaço de treinamento e passaram a ser palcos de estreia. Em muitas delas, trechos de rimas se transformam em refrões de hits. A rua é estúdio e vitrine.


Esses MCs carregam nas letras o retrato da desigualdade, da violência policial, do racismo estrutural e da urgência em sobreviver. Ao mesmo tempo, falam de autoestima, moda, fé, desejo e ascensão financeira, pilares de identificação com o público jovem, sobretudo periférico.


Mais que música: um movimento cultural

Reprodução: Batalha da Aldeia
Reprodução: Batalha da Aldeia

Portais como Genius, KondZilla, Rap Nacional Download e até o G1 e Multishow passaram a noticiar os lançamentos desse universo. O reconhecimento da crítica veio junto com a popularidade. Em 2022, por exemplo, artistas como Leozin e Kant atingiram o Top Brasil no Spotify, enquanto batalhas transmitidas ao vivo registraram audiências de centenas de milhares de espectadores simultâneos.


Do ponto de vista sociocultural, o funk e as batalhas de rima reconfiguram a ideia de sucesso. Não se trata apenas de “vencer na vida”, mas de construir redes, criar novas linguagens e pautar a estética brasileira contemporânea. É sobre ocupar a cena a partir das bordas. É sobre transformar o esgoto simbólico e literal em um novo palco.



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