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Do tamborzão à batida acelerada: A jornada do Funk brasileiro e suas ramificações

  • Foto do escritor: SIMtetizando
    SIMtetizando
  • 30 de out.
  • 5 min de leitura
Reprodução: Canva
Reprodução: Canva

Atualmente, o Funk é um dos estilos musicais mais ouvidos no Brasil, seja por conta de suas batidas e vozes envolventes, ou até mesmo por sua origem periférica, que ganhou as favelas Brasil afora e se tornou forte influência na moda e na linguagem, sendo a principal representação do Brasil no mundo inteiro. Porém, o Funk não se baseia apenas em falar sobre ostentação, “Mulheres do JOB” e “Tigrinho”, pois esse gênero musical tem suas raízes nos bailes black da Zona Sul do Rio de Janeiro, o que inspirou diversas outras vertentes.


Nesta reportagem especial, mergulhamos na cronologia do Funk, explorando suas variações, os MCs e DJs que impulsionaram cada fase, e onde e quando esses estilos se popularizaram, resultando em uma análise do cenário atual de um dos gêneros musicais mais ouvidos no Brasil.


A linha do tempo da batida: Do "Melô" ao "Mandelão"


A história do Funk brasileiro começa na década de 1970, com a popularização dos "bailes black" no Rio de Janeiro, influenciados pela “soul music”, “R&B” e o “Funk” norte-americano de nomes como James Brown. No entanto, o Funk, como o conhecemos hoje, com a batida eletrônica marcante, começou a se consolidar na década de 1980, impulsionado pelo Miami Bass e o Freestyle.


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1. A consolidação do Funk Carioca (Final dos anos 80 e anos 90)


O “Funk Brasil” nasceu e se desenvolveu nas favelas e subúrbios do Rio de Janeiro, no final dos anos 80. O marco fundamental desse processo ocorreu em setembro de 1989, com o visionário DJ Marlboro lançando o LP "Funk Brasil".


Por muitos historiadores, ele é reconhecido como o grande pioneiro, responsável por introduzir a batida eletrônica e popularizar o uso de letras em português. Inicialmente, isso se deu através dos chamados "melôs", que são versões adaptadas de canções americanas. Marlboro foi quem transformou o Funk, que antes era apenas uma festa de música gringa, em um gênero nacional.


No início dos anos 90, surgiu o Funk Consciente, no qual as letras passaram a refletir diretamente a realidade das favelas, sendo representado como um grito de salvação que abordava temas como violência, pobreza e o cotidiano. MCs e DJs chaves desta fase incluíram Cidinho e Doca (com "Rap da Felicidade"), Bob Rum ("Rap do Silva") e MC Batata ("Feira de Acari").


Já em meados dos anos 90, o Funk Melody surgiu como uma vertente mais melódica e romântica, o que ajudou a suavizar a imagem do Funk e levá-lo para um público maior, incluindo a classe média.


Uma das duplas mais conhecidas pelo brasileiro, Claudinho e Buchecha, que possuíam sucessos como "Só Love" e "Nosso Sonho", foi uma das principais responsáveis por popularizar essa variação em todo o país, ao lado de artistas como MC Marcinho ("Glamurosa").


2. O Funk Tamborzão e o Proibidão (Anos 2000)


O Funk Carioca se reinventou através de uma nova batida caracterizada pelo "tamborzão", que buscava trazer uma identidade musical brasileira ainda maior. Esse gênero teve como principal inspiração elementos da música africana, como congas, atabaques e berimbaus.


O ritmo se profissionalizou e popularizou graças à famosa e tradicional produtora Furacão 2000, a principal marca do Funk na época, que produzia hits e criava coreografias marcantes, que ajudaram a produtora e o subgênero a se espalhar pelo Brasil.


Nesse mesmo período, acabou surgindo uma variação muito polêmica, que é o Funk Putaria (ou Funk Proibidão), com letras explícitas sobre sexo e, em alguns casos, apologia ao crime, o que gerou perseguição política e policial. Entre os MCs e DJs chave da época estavam Tati Quebra Barraco ("Boladona"), uma das precursoras femininas, Bonde do Tigrão ("O Baile Todo") e MC Créu ("Dança do Créu").


3. A ascensão do Funk Paulista: Ostentação e Mandelão (Início dos Anos 2010)


No início da década de 2010, o Funk se expandiu drasticamente para São Paulo, dando origem ao Funk Ostentação, um subgênero que, diferente do carioca, trocava as temáticas de crítica social e sexualidade explícita por letras que exaltavam o luxo, o dinheiro, carros caros e marcas famosas, refletindo o sonho de consumo e ascensão social da periferia paulista.


O Funk Ostentação foi o primeiro estilo a tirar o foco do Rio de Janeiro e colocar São Paulo no centro do Funk, destacando MCs e DJs como MC Guimê, com o hit "Plaquê de 100", MC Rodolfinho e o eterno MC Daleste, que teve sua morte trágica em 2013, marcando a cena paulista.


Em meados dos anos 2010, surgiu o Funk Mandelão, um estilo mais cru, com batidas pesadas e repetitivas, que são aqueles famosos "tum-tum-pá" que os críticos vivem falando, associado aos bailes de rua conhecidos como "fluxos" e “bailes Funks”.


O termo "Mandelão" é uma referência à região da Brasilândia, localizada na Zona Norte de São Paulo, onde o estilo se popularizou, e teve MCs e DJs Chave como DJ GBR, que em 2016 criou um projeto chamado “Ritmo dos Fluxos” que ajudou a popularizar este subgênero, MC Lan, MC Kekel, MC Bin Laden, MC GW e MC G15.


Este gênero está tão consolidado que começaram a surgir festivais gigantescos focados apenas neles, um exemplo é o festival chamado “Submundo”, que é um evento focado apenas neste gênero específico e busca unir as diferentes classes sociais utilizando apenas a arte.


4. O Funk acelerado 150 BPM e o Funk Pop (Final dos anos 2010 até hoje)


A partir de 2017, o Funk passou por uma grande reinvenção com o surgimento do Funk 150 BPM no Rio de Janeiro e, simultaneamente, com o crescimento do Funk Pop em nível nacional e internacional.


O 150 BPM é uma variação mais rápida e frenética do tradicional tamborzão carioca, que é voltada para a dança, popularizada por DJs como DJ Polyvox e, posteriormente, por DJ Rennan da Penha no famoso Baile da Gaiola, sendo MC Kevin O Chris ("Eu Vou Pro Baile da Gaiola") um de seus nomes chave.


Em paralelo, o Funk Pop (uma modernização do "Funk Melody") ganhou o famoso “mainstream” ao adotar produções de alto nível, coreografias elaboradas e letras mais estratégicas para o mercado. Esse estilo misturou o Funk com elementos do pop, reggaeton e eletrônico, impulsionando a internacionalização do gênero através de artistas como Anitta ("Envolver"), Ludmilla (antiga MC Beyoncé), Pedro Sampaio e MC Kevinho.


No final dos anos 2010 e continuando até hoje, surgiu também o Funk Rave / MTG, uma fusão com a música eletrônica (rave) e o formato de Montagem (MTG), onde DJs criam faixas misturando batidas de Funk com samples de músicas famosas, acelerando e distorcendo. O Funk de BH (Belo Horizonte), como o Funk Rave mineiro, se destaca nessa vertente, com nomes como Dennis DJ, DJ Topo e MC Anjim (BH).


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