Trap, Funk e os limites da liberdade de expressão
- SIMtetizando

- 4 de out.
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Atualizado: 6 de out.
Trap é um subgênero do Rap, um gênero criado nos subúrbios dos Estados Unidos que dominou o mundo. Dentro do Trap, é possível identificar diversas vertentes, como “Drill”, que tornou-se extremamente popular por volta de 2010 com o rapper Chief Keef ganhando notoriedade global. Keef trazia temas como a violência, crime e ostentação de uma forma diferente do que era considerado normal, pois o rapper cantava o que vivia, relatava assassinatos e instigava membros de gangues rivais a um possível conflito.
O Drill dominou a cidade de Chicago e hoje a cidade enfrenta um problema social e cultural entre jovens que se tornam criminosos para cantar sobre a vida bandida em suas músicas. No Brasil, essa prática de relacionar crimes vividos e o rap não é tão comum, apesar de termos alguns exemplos como o MC Poze do Rodo e Meno Tody; ambos eram, supostamente, membros da facção Comando Vermelho antes de se tornarem populares através da arte. Durante o surgimento de Tody no cenário musical, houve uma separação do que é Real Trap e apenas Trap na cena nacional. O rapper carioca se denominava real, pois ele havia sido criminoso, assim como alguns artistas norte-americanos do gênero.
Atualmente, há um consenso que a arte salva vidas e tira pessoas de situações adversas, como o caso de Poze, Tody e Chief Keef, mas qual é o limite entre música e apologia ao crime? Essa é uma pergunta que veio à tona quando Amanda Vettorazzo, vereadora da câmara municipal de São Paulo, decidiu criar o Projeto de Lei Anti-Oruam, uma medida que consiste num conjunto de projetos de lei para proibir o contrato de shows de artistas que fazem apologia ao crime e ao uso de drogas em suas músicas. Muitos internautas e artistas se revoltaram com a medida da vereadora e questionaram se o fato de cantar a realidade pode ser considerado um ato criminoso.
Na última semana de setembro, o projeto “The Box” lançou a décima edição de seu medley com participações de Pedrin, Js da Torre, Borges, Meno Tody e NGC Daddy. Todos os rappers são identificados com o “Real Trap” se juntaram para uma composição que mistura realidades periféricas, como a violência, o sentimento de revolta e o crime. A produção chocou parte do público por ter algumas citações como
“é os menor da Pavuna, odiamos a polícia, milícia não me intimida, rouba, trafica, duro não fica, como se fosse um estilo de vida”
“16 (apelido do Js da Torre) trafica desde que essas ruas não tinham boca, PV é a sigla e se errar o sinal, a bala voa”
“p*ta, eu sou traficante, meto bala na sua gangue, menor mal gosta de sangue”.
Neste projeto, é possível perceber que em um momento os cantores estão interpretando um personagem possivelmente real, mas a dúvida que sempre fica na cabeça dos ouvintes é se o que é dito é apenas uma exposição do que acontece nas favelas ou apenas uma divulgação aberta do estilo de vida criminoso.

Entre um cenário de música, liberdade de expressão e controvérsias, a arte continua funcionando como uma salvação para muitos, mas também está sendo empregada como elemento de dominação cultural por algumas organizações criminosas.
Assim como é feito em Chicago no Drill, nos últimos anos, os chefões do crime no Rio de Janeiro estão possivelmente utilizando o funk para se autopromover em conjunto à suas facções. A música “Equipe Caos” do DJ Biel do Furduncinho cita a própria Equipe Caos, um grupo armado do Comando Vermelho responsável por invadir e dominar morros de outras facções. A canção nomeia alguns indivíduos criminosos, como o Urso, um dos chefes do CV também conhecido como Doca e seus “soldados”, BMW, Paulista, Tiriça e Gadernal.
Além de músicas com citações implícitas, existem outras com mensagens explícitas, como a faixa “No pique do C.V”, que aborda temas da organização criminosa:
“Os crias de rolé nos acessos e hoje quer sucesso, só tem traficante, trabalhou, papo reto. Nós é contra o sistema, A.D.A. (Amigos dos Amigos) e meleca (milícia). No pique do CV, nós capotamos a Blazer (carro usado como viatura policial), essa é a tropa do PL (traficante) de granada e de colete. No pique do CV, essa é a tropa do Rato (traficante) de meiota (fuzil) e de colete.”
Atualmente, o Trap, Funk e os limites da liberdade de expressão são debatidos nas câmaras e procuram seguir o que prevê a lei, mas o debate enfrenta questões éticas e morais.







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